O Modelo Denver de Intervenção Precoce tem como objetivo principal abordar diretamente os sintomas mais característicos do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em particular, sua atuação concentra-se em promover avanços significativos em áreas essenciais, como a reciprocidade social, o engajamento social e o interesse social das crianças diagnosticadas com TEA.
Essas áreas são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades sociais e comunicativas, que, por sua vez, desempenham um papel crucial no progresso geral da criança. Sendo assim, neste artigo, exploraremos como o Modelo Denver organiza suas práticas terapêuticas para fortalecer essas capacidades, com base em evidências científicas e práticas reconhecidas.
Me chamo João Chiaragatto, sou professor especialista em Educação Especial e pai de uma criança com autismo, a Maria Luiza. Identificamos os primeiros sinais do transtorno com apenas 12 meses de idade e, após uma rápida investigação, conseguimos fechar o diagnóstico com 1 ano e 2 meses. Logo em seguida, com 1 ano e 3 meses, iniciamos as terapias baseadas no Modelo Denver. Desde o início, o método se mostrou extremamente eficaz, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da Maria Luiza. Por meio dessa abordagem, ela conquistou novas habilidades e aprendeu a interagir melhor com o mundo ao seu redor. Como resultado, nossa família vivenciou um impacto positivo e transformador, fortalecendo nossos laços e trazendo, acima de tudo, mais harmonia ao nosso cotidiano.
O que é Reciprocidade Social?
A reciprocidade social refere-se à habilidade de interagir adequadamente e de responder às iniciativas sociais de outras pessoas. Para muitas crianças com TEA, essa habilidade apresenta desafios significativos, dificultando a criação de vínculos e a participação em interações sociais.
Nesse contexto, o Modelo Denver, descrito por Rogers e Dawson (2010), coloca a reciprocidade social como um dos pilares de sua abordagem terapêutica. De forma prática, o modelo utiliza estratégias como ensinar a manter contato visual, compartilhar interesses e alternar turnos durante as brincadeiras. Dessa forma, busca-se melhorar a capacidade da criança de participar de trocas sociais de maneira mais efetiva.
Além disso, vale destacar que essas práticas não apenas auxiliam na interação imediata, mas também contribuem para o desenvolvimento de habilidades mais complexas, como a empatia e a compreensão de regras sociais.
Como Promover o Engajamento Social?
Outro aspecto importante abordado pelo Modelo Denver é o engajamento social, que envolve o interesse ativo da criança em participar de interações. No entanto, para muitas crianças com TEA, essa habilidade está comprometida, tornando-se, portanto, um alvo essencial da intervenção terapêutica.
Segundo Rogers e Vismara (2008), o Modelo Denver utiliza estratégias específicas para incentivar a criança a buscar interações sociais e a compartilhar emoções de forma natural. Por exemplo, atividades que promovem momentos de alegria compartilhada ou que encorajam a criança a prestar atenção nas reações dos outros são amplamente empregadas.
Consequentemente, essas práticas aumentam a motivação intrínseca da criança para se envolver em interações significativas. Isso é crucial porque ajuda a estabelecer uma base sólida para outras áreas do desenvolvimento, como a comunicação e a resolução de problemas interpessoais.
Ampliando o Interesse Social
Além da reciprocidade e do engajamento, o interesse social também recebe destaque na abordagem do Modelo Denver. Esse aspecto refere-se à capacidade da criança de demonstrar curiosidade em relação às pessoas, objetos e ao ambiente ao seu redor.
Embora muitas crianças com TEA apresentem um foco restrito em interesses específicos, o Modelo Denver trabalha para ampliar essa perspectiva. Por meio de atividades cuidadosamente planejadas e de estímulos variados, a abordagem busca despertar a curiosidade da criança e incentivá-la a explorar novos temas e interações.
Como resultado, a criança não apenas amplia suas áreas de interesse, mas também se beneficia de uma maior diversidade de experiências e oportunidades de aprendizado. De acordo com Rogers e Dawson (2010), essa expansão é essencial para o desenvolvimento global e para a construção de habilidades mais flexíveis.
A Importância do Ambiente na Terapia
Outro diferencial do Modelo Denver é o uso de ambientes naturais para a realização das intervenções. Esse tipo de abordagem utiliza o próprio interesse da criança como guia para as atividades, criando um ambiente motivador e engajador.
Em vez de impor demandas, o terapeuta observa o que desperta a atenção da criança e utiliza isso como uma “ponte” para ensiná-la novas habilidades. Por exemplo, se a criança demonstra interesse em um brinquedo específico, o profissional aproveita essa motivação para introduzir interações sociais ou conceitos que favoreçam o aprendizado.
Além disso, a construção de um ambiente acolhedor e livre de julgamentos ajuda a estabelecer uma relação de confiança. Assim, o terapeuta consegue entrar no universo da criança e, gradualmente, trazê-la de volta para interações mais amplas e enriquecedoras.
Construindo a Motivação
Uma das características mais marcantes da metodologia Denver é a ênfase na motivação da criança, sem gerar pressões desnecessárias. Nesse sentido, o terapeuta foca em observar atentamente o que atrai a atenção da criança, utilizando esse interesse como ponto de partida para o aprendizado.
Por exemplo, ao imitar os comportamentos da criança sem emitir julgamentos, o profissional cria um ambiente de aceitação e estímulo. Esse processo não apenas facilita a aprendizagem de novas habilidades, mas também promove a participação ativa da criança, respeitando sempre seu ritmo e individualidade.
Dessa forma, a terapia não é vista como algo imposto, mas sim como uma experiência agradável e colaborativa, o que aumenta significativamente o engajamento da criança.
Conclusão
Em resumo, o Modelo Denver de Intervenção Precoce apresenta uma abordagem inovadora e eficaz para lidar com os principais sintomas do TEA. Por meio de estratégias personalizadas, o modelo promove a reciprocidade, o engajamento e o interesse social, criando um ambiente terapêutico acolhedor e motivador.
Além disso, ao utilizar os interesses da própria criança como guia, o modelo respeita sua individualidade e estimula sua autonomia. Assim, crianças com TEA podem desenvolver habilidades sociais e comunicativas mais sólidas, ampliando suas oportunidades de aprendizado e crescimento.
Portanto, o Modelo Denver se destaca como uma ferramenta valiosa no cuidado de crianças com TEA, contribuindo de maneira significativa para seu desenvolvimento global.
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