O cuidado com a higiene pessoal pode representar um desafio significativo tanto para crianças dentro do Espectro Autista (TEA) quanto para seus familiares. Atividades como ir ao banheiro, escovar os dentes e tomar banho frequentemente envolvem dificuldades relacionadas à percepção sensorial — incluindo texturas e sons — além de questões comportamentais que podem surgir. Nesse contexto, é crucial adotar abordagens práticas e sensíveis para lidar com esses desafios.
Minha experiência
Meu nome é João Chiaragatto, sou professor especialista em Educação Especial e pai de uma criança com autismo, Maria Luiza. Ao longo da nossa rotina, observei que as principais áreas de dificuldade concentram-se, especialmente, no uso do banheiro, na higiene bucal e no cuidado com os cabelos. Dessa forma, identifiquei estratégias que, além de eficazes, são acessíveis para famílias que enfrentam desafios semelhantes.
Assim sendo, com base na nossa experiência diária, decidi compartilhar algumas dicas práticas. Essas sugestões, acompanhadas de exemplos reais, têm como objetivo principal oferecer suporte para outras famílias, ajudando-as a enfrentar situações similares. A seguir, apresento essas estratégias:
Seguem as dicas e exemplos para facilitar esse processo:
1. Brincadeiras como estratégia de aprendizagem
Uma abordagem eficaz é usar brinquedos para simular as atividades de higiene. Por exemplo, escovar os dentes de um boneco ou trocar a fralda de uma boneca pode tornar o aprendizado mais leve, divertido e, consequentemente, mais eficaz.
Na nossa casa tivemos resultados positivos com estratégias como essas. Para a higiene bucal, frequentemente compramos escovas de dentes com personagens favoritos da Maria Luiza, dessa maneira nós incluímos um agir ativo nela. Além disso, utilizamos canções que tornam a escovação mais estimulante e, para completar, incluímos bonecas para ela escovar junto.
2. Enfrentando desafios gradualmente
Ao lidar com a resistência em pentear os cabelos, por exemplo, adotamos várias estratégias. Hoje, Maria Luiza já penteia sozinha, mas foi um processo. No início, utilizávamos canções, deixávamos que ela penteasse o cabelo da boneca e, enquanto isso eu distraía ela com conversas e penteava devagar. Esse processo exigiu persistência, mas, ao final, valeu muito a pena.
3. Incentivo no desfralde
No desfralde, utilizamos um “troninho” de personagem, o que tornou o momento mais acolhedor para ela. Além disso, cantávamos canções e usávamos brinquedos para tornar a experiência mais positiva e menos estressante.
4. A importância da modelagem
Demonstrar as atividades de higiene pessoal foi crucial. Por exemplo, penteávamos o cabelo da minha esposa na frente dela, escovávamos os dentes juntos e mostrava como usar o banheiro. Para crianças com TEA, observar exemplos práticos é de extrema importância para a aprendizagem.
5. Participação ativa
Outra estratégia que sempre gerou bons resultados foi incentivar a participação ativa da Maria Luiza. Permitir que ela escolhesse sua escova de dentes, sabonete ou pasta ajudou a aumentar seu senso de autonomia. Quando a levo à farmácia e deixo que escolha esses itens, percebo um maior interesse e disposição em participar das atividades de higiene.
6. Rotinas visuais
Criar um cronograma visual com os passos de cada atividade, como escovar os dentes ou tomar banho, tornou a compreensão e organização da Maria Luiza muito mais fáceis. Em casa, usamos um quadro com imagens, onde ela pode marcar as etapas completadas. Isso, além de ajudá-la a se organizar, também reforça sua participação ativa na rotina.
Outros pontos importantes a serem considerados:
Ambiente confortável
Adaptar o ambiente do banheiro é essencial. Reduzir estímulos que possam causar desconforto, como luzes intensas ou sons altos, contribui para tornar o espaço mais acolhedor.
Reforço positivo
Celebrar as conquistas, mesmo as menores, é fundamental. Isso ajuda a fortalecer a autoestima da criança e a motivá-la a continuar aprendendo.
Paciência e consistência
Por fim, é essencial lembrar que todo esse processo exige paciência e consistência. No início, pode parecer que nada está funcionando e que tudo está sendo feito de forma errada. Contudo, com o tempo e a persistência, os resultados começam a aparecer, trazendo grande motivação e realização para toda a família.
Conclusão
Portanto, com estratégias adequadas e o apoio de profissionais especializados, é possível ajudar crianças com TEA a desenvolver habilidades de higiene pessoal de forma gradual e eficaz. Assim, promovemos tanto sua autonomia quanto o seu bem-estar, o que, sem dúvida, é uma grande vitória para todos os envolvidos.
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